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Dávid Hancko busca a perfeição no Feyenoord

Dávid Hancko

Nesta semana, um dos principais destaques do Feyenoord na temporada, Dávid Hancko foi entrevista pela Voetbal International (VI). Essa é uma semana extremamente importante para as pretensões do Feyenoord na temporada, afinal de contas, terá que encarar o Shakhtar Donetsk pelas oitavas de final da UEFA Europa League e posteriormente, enfrentará o AFC Ajax em Amsterdã, pela Eredivisie.

O De Klasieker está se aproximando e Dávid Hancko está ansioso por isso.

“Nós fomos melhores na nossa casa, mas apenas empatamos. Agora temos a chance de vencer o Ajax em Amsterdã. Será difícil, mas certamente não impossível”

A atmosfera, o sentimento, a rivalidade, ele já passou por tudo isso.

“Eu joguei pelo Sparta Praga durante anos. E o grande rival era o Slavia Praga. Diferente daqui em que o principal rival fica em outra cidade, na República Tcheca, o nosso rival ficava dentro da mesma cidade. Então enfrentávamos uma grande rivalidade todos os dias. Se eu fosse tomar um café em qualquer lugar da cidade, diversas vezes o garçom me entregava o café e dizia que ele era torcedor do meu rival. Quando eu andava por Praga, eu passava por todo tipo de situação. Era cansativo, mas eu me acostumei. É por isso que acho que quando os principais rivais ficam na mesma cidade, o clima é muito mais hostil. Se eu sair da minha casa para tomar um café em Roterdã, dificilmente serei abordado por um torcedor do Ajax”

O fato de o Feyenoord lutar durante dezoito anos para conseguir vencer o Ajax na Johan Cruijff ArenA não significa nada para Dávid Hancko.

“Eu nunca havia vencido um clássico em Praga até o ano passado. Dos seis clássicos que disputei, eu perdi três e empatei os outros três. Durante minha última temporada, nós os enfrentamos quatro vezes, duas pelo campeonato tcheco, uma vez no Play-Off e empatamos na Copa da República Tcheca. Nós vencemos três dos quatro clássicos. Eu deixei o país com paz de espírito”

Dávid Hancko está longe de deixar o Feyenoord. Ele só está lá há oito meses, embora pareça mais. Raramente houve um jogador que se adaptou tão rapidamente, que entrou no time titular e joga com tanta confiança.

“Eu estava em forma quando vim, já tinha feito uma boa preparação no Sparta Praga. Mas o físico não é decisivo, depois disso é tático, o que quer o teu novo treinador, qual é o teu papel? Nós temos aqui um treinador que explica tudo na perfeição e escolhe uma forma de jogar onde as minhas deficiências não são muitas vezes expostas. Estou em uma boa posição, meus companheiros estão em uma boa posição, nós sabemos o que fazer em todas as situações, onde e como pressionar. O que me ajudou bastante foi trabalhar ao lado de Gernot Trauner. Ele é muito calmo com a bola”

Existe diversas formas no futebol que pode levar um time ao sucesso. O caminho do Feyenoord e de Arne Slot combina mais com você do que a maneira como você jogou na AFC Fiorentina?

“Na Itália, os treinos são mais longos, não necessariamente mais difíceis. Em média, ficamos duas horas e meia todos os dias, treinando na AFC Fiorentina. Aprendi muito na Itália, mas pessoalmente eu conseguir me desenvolver melhor com a forma como treinamos no Feyenoord”

O futebol é mais um jogo mental ou físico?

“Ambos seriam a resposta certa, mas eu entendo a pergunta. Fisicamente você pode treinar, mas tem que ser capaz de lidar com isso mentalmente. A propósito, também tive que aprender muito em relação ao jogo mental”

O Feyenoord comprou você do Sparta Praga por esse motivo.

“Depois da AFC Fiorentina, eu também poderia ter ido para um time principal na Bélgica ou para o Mallorca. Grandes equipes, mas não com as expectativas de conquistar grandes competições. Em Praga, tive que lidar com muita pressão. O Sparta Praga é o maior clube do país, com muita atenção todos os dias. Você tinha que ganhar todos os jogos. Cinquenta mil pessoas em De Kuip não me deixavam mais nervoso, depois de tudo que passei na República Tcheca.”

Você foi capaz de lidar com uma ida não tão bem-sucedida para a Itália?

“Eu era muito jovem na Itália, o que tornou tudo um pouco mais fácil de aceitar. Além disso, o treinador da AFC Fiorentina não época, Stefano Pioli, não estava nada satisfeito comigo. Eu fui aguentando. Eu era o terceiro reserva para a defesa e o segundo para a lateral esquerda. Na Itália, eles não mudam muito e os zagueiros dificilmente perdem a titularidade. Mas, ao olhar agora, na Itália aprendi talvez a lição mais importante da minha vida”

O que você quer dizer com isso?

“Eu estava sempre ocupado lá, primeiro eu seguia para o centro de treinamento. Depois eu ia para casa e à noite eu ia para a academia que ficava no estádio da AFC Fiorentina. Os treinadores falavam que eu treinava demais. Mas a sensação de que eu precisava me preparar mais ganhava força do medo que tinha de que o adversário fizesse mais do que eu. Depois da Itália, comecei a fazer as coisas de forma diferente e no Sparta Praga comecei a notar a diferença. Eu estava mais calmo, mais em forma e fazer menos era tudo. Recentemente encontrei um treinador que trabalhou comigo e a primeira pergunta que ele fez foi se eu ainda estava treinando como um louco. Eu respondi que quanto menos eu treinava, melhor eu jogava”

O que você está fazendo de diferente?

“A minha atitude continua a mesma. Nas competições e durante os treinamentos, entrou 100%. Mas em termos de extra, mudei muito. Agora vou para a sauna em vez da academia se houver um treinamento pesado no programa do dia seguinte. Ou recebo uma massagem. Ou vou ao terapeuta. Eu sou rigoroso com isso. Presto bastante atenção na minha alimentação, se eu não tiver que treinar, às vezes como um ovo de manhã, senão só mingau. Nós recebemos nossas refeições noturnas no clube, cinco vezes por semana, adaptadas às nossas necessidades. Os chefs preparam especialmente para cada um de nós. Nós podemos escolher se queremos peixe, carne bovina ou apenas vegetais. Levamos a comida para casa e esquentamos. Toda a equipe está em forma e cheio de energia. Eu costumava resolver tudo sozinho, mas aprendi que é fundamental confiar na equipe”

“As pessoas sempre assumem que aprendi muito na Itália. Claro que sim, mas aprender mesmo, é o que estou fazendo agora, sob a orientação do staff do Feyenoord. Vou tentar explicar. Como zagueiro, sempre estive focado em mim, em meu desempenho. Agora estou aprendendo a me preocupar com o desempenho total. Se o adversário colocar pressão ali, o que faremos? Como eu treino? Como nos posicionamos? Eu sou o zagueiro central, tenho a visão geral do campo e espera-se que eu consiga ajudar o time”

Como jogamos com frequência agora, temos que resolver diversas situações dentro de campo. Essas reuniões são também sessões de formação em que a comissão técnica explica o que espera de nós, como e de que forma podemos aproveitar, onde estão os espaços. Em seguida, colocamos isso em prática durante o treinamento. Não que eu tenha que aprender a jogar futebol novamente no Feyenoord, mas é tudo tão abrangente”

O que torna um bom zagueiro?

“Agressividade e concentração. Qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento em uma partida e você tem que estar bem postado em campo. E saiba sempre onde está o seu adversário, onde está a sua barra, como está posicionado o seu goleiro, se existe espaço nas suas costas. E ao mesmo tempo também saber onde estão as possibilidades de passes quando roubamos a bola. Mas também há momentos em que você terá que brigar com o atacante adversário. Você nunca pode fazer isso pela metade”

Isso pode ser aprendido ou tem que ser uma característica que nasce com você?

“O último, eu acho, o que não quer dizer que não possa ser feito de outra maneira. Antes de cada partida, tenho um estresse que evoca a energia para querer jogar bem”

Estresse?

“Não que eu tenha medo de errar. Eu tenho um nervosismo no estômago. Estabeleci um padrão para mim mesmo no Feyenoord e quero alcançá-lo a cada partida. Isso causa esse estresse”

Como é um dia de jogo para você?

“Começa na noite anterior, antes mesmo de eu dormir. Na cama já começo a imaginar a partida, me vejo vencendo os duelos, cabeceando bolas para longe. As chances são de que eu adormeça com uma mentalidade vencedora. Assim que acordo, penso no que os treinadores disseram durante os treinamentos. Exemplo: antes de jogar contra o PSV em casa eu pensava muito nas jogadas de Guus Til, então não podia focar apenas em Luuk de Jong, o centroavante”

“É assim que tudo se desenvolve para o jogo. Eu vejo vídeos e anoto no meu caderno o que tenho que fazer. Isso realmente me ajuda. Escrevi sobre Burak Yılmaz que ele sempre finge que vai ao fundo, mas depois quer ter a bola nos pés. Assim que escrevo isso, fica na minha cabeça. Elvis Manu aposta na bola na última linha. Isso também é anotado e me dá aquele segundo a mais na partida”

Você fica disponível para sua esposa nesses dias?

“Sim, podemos apenas conversar. Ela me entende. Como todos já sabem, ela já jogou tênis de alto nível. Ela já foi a número um do mundo. Se existe um esporte em que você realmente precisa ser mentalmente forte é o tênis. Eu também jogo às vezes. Se você está acertando todas as bolas por quinze minutos e nos quinze minutos seguintes você não acerta nenhuma bola, então tente manter a calma. É que eu jogo com as raquetes da minha mulher, senão poderia ter quebrado igual ao Nick Kyrgios. Então ela tem que rir. Também por causa dela fiquei mais calmo, comecei até a conversar com um psicólogo, só para me distrair e não ficar preso em erros. Agora sei que a perfeição no futebol não existe”

Um dos jogadores mais famosos do Feyenoord, Willem van Hanegem diz que passou toda a sua carreira lutando pelo jogo perfeito, mas nunca conseguiu.

“Precisamente! Se ele nunca teve sucesso, tenho que aceitar plenamente que nuca terei. Mas lutar por isso ainda é possível, isso mantém seu nível alto, é também a razão pela qual agora jogo no Feyenoord. Venho de uma pequena cidade que todas as pessoas na Eslováquia nem conhecem. Quando eu tinha dez ano, fui para o FC Banik que jogava na segunda divisão da Eslováquia. Eu morava dentro do estádio, atrás das arquibancadas, de modo que a minha vida acontecia naqueles poucos metros quadrados”

“Você só consegue enfrentar esse tipo de situação se realmente quiser. Eu ainda vivo assim. A minha mulher dirá que minha vida gira em torno do futebol, futebol e futebol. Com toda a honestidade, não posso deixar de concordar com ela. Euvo o futebol, vejo tudo, observo os zagueiros, anoto coisas. O futebol nunca para”

Como você relaxa?

“Gosto de assistir Fórmual 1. Isso se tornou meu lazer. Fiquei viciado naqueles documentários da Netflix. Hoje em dia ouço podcasts sobre Fórmula 1, sobre estratégias, os pneus e assim estou aprendendo a entender cada vez melhor o esporte. É muito mais do que alguns carros velozes correndo. Centenas de pessoas trabalham em um carro”

“No ano passado, estávamos em um campo de treinamento na Áustria com o Sparta Praga. Eu sabia que o GP de Spielberg estava acontecendo a uma hora e meia de onde estávamos. Perguntei ao nosso treinador se podíamos ir lá, era nosso dia de folga. Isso foi permitido. No final, fomos com toda a equipe. Dirigimos com o ônibus dos jogadores do Sparta e tivemos o dia de nossas vidas. Mesmos os jogadores que achávamos que não iria gostar, amaram o passeio”

Quem é seu piloto favorito?

“Lewis Hamilton. Antes de começar a mergulhar nesse esporte, ele já falava comigo. Isso só aumentou desde então. Ele está sob muita pressão e sabe como lidar com isso. A propósito, todos esses pilotos são verdadeiros atletas de ponta. Admiro isso”

No Feyenoord, quase ninguém lembra de Marcos Senesi.

“Bom jogador, vi imagens antes de vir. Ele tem sido de grande valor, de modo que não falar mais dele é diferente de esquecê-lo. Estou feliz que as pessoas em Roterdã estejam felizes por eu estar aqui”

O que você fará em 28 de maio?

“Meu filho completará um ano de idade”

Esse pode ser um aniversário inesquecível. “Eu sei, também é o último jogo da temporada. Você tem que entender que não estou dizendo que seremos campeões. Nós faremos mais uma partida muito importante contra o Shakhtar Donetsk na quinta-feira, onde podemos nos classificar para as quartas de final da Liga Europa. E depois teremos o Ajax em Amsterdã, uma grande partida. Não é apropriado falar sobre um título agora, exceto que pode ser feito este ano e que sonhar com isso não é proibido”

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