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Lucros, vendas e contabilidade: como as transferências moldam a Eredivisie em 2024/25

#PSVHER .

Johan Cruijff uma vez disse que jamais viu um saco de dinheiro marcar um gol. Uma frase que virou mantra entre os mais românticos do futebol. Mas a realidade é que o jogo mudou. O futebol moderno se transformou em uma indústria bilionária, onde planilhas, balanços e lucros convivem com dribles, gols e taças. E nesse novo mundo, as transferências não são apenas decisões esportivas — elas são estratégicas do ponto de vista financeiro. Um bom negócio pode salvar uma temporada inteira. Um mau negócio pode afundar um gigante.

Neste especial, vamos entender como as transferências estão moldando os clubes da Eredivisie na temporada 2024/25, com foco em Ajax, Feyenoord, PSV, AZ Alkmaar e outros protagonistas do futebol holandês. Qual a lógica por trás da venda antes de 30 de junho? Como os clubes equilibram esportividade e responsabilidade financeira? E por que o Ajax, gigante entre gigantes, voltou a registrar prejuízo?


📅 O Deadline Day que os torcedores não veem: 30 de junho

Todo mundo conhece o famoso Deadline Day do mercado europeu, aquele frenesi de 1º de setembro, quando as janelas se fecham e os elencos se definem. Mas poucos sabem que, nos bastidores, existe outro Deadline Day talvez ainda mais decisivo: 30 de junho.

Essa data marca o fim do ano fiscal do futebol europeu. Toda venda realizada até esse dia entra no balanço da temporada 2024/25. Tudo que acontece a partir de 1º de julho, entra só no próximo ciclo. Parece detalhe? Pois não é. Quando falamos de clubes que lidam com dezenas de milhões de euros em amortizações e desvalorizações, cada milhão entra na conta. Literalmente.

E tem mais: o lucro de uma venda é registrado de forma imediata. Se um clube vende um jogador por €10 milhões, todo esse valor entra direto no balanço daquele ano. Já o custo de uma compra é diluído ao longo dos anos de contrato. Essa diferença contábil é o que torna o timing da venda tão estratégico.


🌎 Como os clubes da Premier League driblam o prejuízo

Em 2023/24, clubes como Chelsea, Newcastle, Aston Villa e Everton estavam em apuros. Tinham estourado os limites de perda do Fair Play Financeiro da Premier League, que analisa as contas em ciclos de três anos. Solução? Vender antes de 30 de junho.

O Chelsea chegou a vender seu time feminino para uma subsidiária por mais de €200 milhões. O Aston Villa fez o mesmo. O Newcastle conseguiu vender Lloyd Kelly à Juventus por cerca de €20 milhões. E por aí vai. Tudo para maquiar balanços e cumprir com as regras. Tudo dentro da legalidade. Mas também, dentro da astúcia.


🇳🇱 A Eredivisie não tem regras tão duras, mas também exige cuidado

A KNVB (Federação Holandesa) não impõe limites rígidos como Inglaterra ou Espanha, mas faz uma avaliação anual do desempenho financeiro dos clubes. Quem apresenta números ruins precisa criar planos de recuperação e pode ser monitorado de perto.

Por isso, alguns clubes também preferem antecipar vendas. Além disso, balanços mais “bonitos” também agradam investidores, patrocinadores e potenciais parceiros.


🔴 Feyenoord: exemplo de timing e lucro

O Feyenoord acertou em cheio ao negociar Quilindschy Hartman com o Burnley antes de julho. Como Hartman foi formado no clube, todo o valor da venda — entre €9 e €12 milhões — é considerado lucro líquido.

Dennis te Kloese também antecipou vendas menores: Marcus Pedersen (Torino), Thomas van den Belt (Twente), Marcos López (København), Mimeirhel Benita (Heracles) e Ilias Sebaoui (STVV). Nem todos renderam muito, mas ajudaram a reforçar o resultado da temporada 2024/25. O lucro deve cobrir os custos com transferências recentes e a depreciação do elenco.

Com participação na Liga dos Campeões, o Feyenoord deve apresentar superávit tanto operacional quanto com transferências. Mesmo longe do título da Eredivisie, o clube teve um ano excelente fora de campo.


🏆 PSV: o reforço veio no inverno

O PSV segurou seu elenco no verão passado. As únicas saídas foram Jordan Teze e, mais tarde, Lozano no inverno. Foi justamente em janeiro que o clube encontrou seu “respiro financeiro” com a venda de Matteo Dams para a Arábia Saudita.

Com a boa campanha na Champions e classificação para as oitavas de final, garantiu-se o bônus da UEFA. O clube não teve pressa para negociar nomes como Noa Lang ou Malik Tillman antes do encerramento do ano fiscal.


📈 AZ: lucro em 15 temporadas seguidas

O AZ Alkmaar é um caso único na Holanda. Conseguiu lucro positivo com transferências em quinze temporadas consecutivas. Este ano, reforçou os ganhos com os bônus de revenda de Tijjani Reijnders e Milos Kerkez.

Vangelis Pavlidis e Yukinari Sugawara também foram negociados com sucesso em 2024/25. A estratégia clara de valorização e revenda do AZ segue como modelo.


⚠️ Ajax: o gigante que patina

Aqui está o ponto mais sensível. O Ajax, que já foi o maior vendedor da Holanda, está sofrendo para equilibrar as contas. Em 2024/25, apenas Steven Bergwijn foi negociado por valor relevante (€20M), mas como ainda estava com alto valor contábil, o lucro foi quase nulo.

Outras vendas foram modestas: Jorge Sánchez, Gerónimo Rulli e Silvano Vos. Na primeira metade da temporada (julho a dezembro), o clube teve apenas €5,6M de lucro com vendas, contra uma depreciação de elenco de €21,2M. Resultado: um déficit de €15,6M apenas no semestre.

As vendas de Devyne Rensch, Diant Ramaj e Benjamin Tahirovic no inverno tampouco resolveram. Resultado final com transferências em 2024/25: apenas €5,9M em lucro. O clube deve fechar o ano com déficit superior a €36M em transferências.


💳 Contabilidade e futebol: o que realmente importa?

No fim, o Ajax ainda apresenta saldos bancários positivos. O pagamento à vista de Bergwijn pela Arábia ajudou. E o clube segue com boa base de capital. Mas isso não significa que está tudo tranquilo.

Quando você vende pouco por várias janelas, o fluxo de caixa diminui, e você precisa apostar em jogadores mais baratos. O Ajax ainda tem dívidas com base em compras anteriores, mas já conseguiu reduzir bastante sua exposição.

O problema é que, ao contrário de PSV e AZ, não apareceram surpresas positivas. E a pressão sobre Alex Kroes para equilibrar as contas vai aumentar.


🚀 Conclusão: vender bem não é feio. É sobrevivência.

O futebol moderno não permite mais amadorismo fora de campo. O sucesso esportivo está diretamente ligado à gestão financeira. Saber vender no momento certo, como o Feyenoord e o AZ, é parte fundamental do jogo. Errar o timing ou supervalorizar atletas, como o Ajax vem fazendo, pode comprometer toda uma temporada.

O mercado se reinicia a cada 1º de julho. E a lição é clara: quem souber jogar bem com os números, ganha antes mesmo de a bola rolar.

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