O Feyenoord vive um mês de julho caótico. Em meio à preparação para a nova temporada, o clube de Rotterdam tem visto seu sistema defensivo ruir diante de seus olhos. No último amistoso contra o AA Gent, o zagueiro Thomas Beelen sofreu uma lesão grave e está fora por tempo indeterminado. A queda do defensor não foi um caso isolado. Ela veio poucas horas depois da despedida de Dávid Hancko, que acertou sua transferência para o Al-Nassr, da Arábia Saudita.
É uma sucessão de perdas que ameaça comprometer o trabalho de Robin van Persie ainda nos primeiros capítulos. O clube, que deveria estar ajustando seus detalhes táticos e ritmo de jogo, agora precisa lidar com lacunas no setor mais sensível do elenco: a defesa. E o pior — as soluções ainda não vieram.
Um susto em campo: a lesão de Thomas Beelen

A cena foi dura. Logo no início do jogo contra o AA Gent, Beelen travou uma disputa de bola e ficou no chão. O semblante dos companheiros denunciava a gravidade. Oussama Targhalline saiu correndo do banco para prestar apoio. Robin van Persie reuniu o elenco e chegou a sugerir que o jogo fosse encerrado. Os jogadores decidiram seguir, mas já não havia clima competitivo.
O Feyenoord perdeu o amistoso por 2 a 1, mas a derrota pouco importava. Beelen, uma das apostas de Van Persie para a rotação defensiva, se tornou mais um problema em um setor já em alerta máximo. O clube ainda não oficializou o diagnóstico final, mas fontes próximas ao 1908 apontam para um período longo de afastamento.
Dávid Hancko: a saída mais dolorosa da temporada
A lesão de Beelen se soma a uma ausência já confirmada. Dávid Hancko, titular absoluto e peça central do sistema defensivo nos últimos dois anos, foi negociado com o Al-Nassr. O eslovaco se despediu do clube no dia anterior ao amistoso. Ele já havia manifestado desejo de sair, e com o aval do novo técnico Jorge Jesus e o entusiasmo de Cristiano Ronaldo, a proposta saudita ganhou força.
O acordo foi selado por 35 milhões de euros fixos, sem bônus. Um valor alto, sim, mas que deixa uma lacuna técnica gigantesca. Hancko não era apenas um zagueiro seguro. Ele também era o organizador da saída de bola e o líder da retaguarda. Sua venda representa a quinto recorde consecutivo de saída milionária do clube, seguindo os passos de Sinisterra, Kökçü, Wieffer e Giménez.
Financeiramente, o Feyenoord bate metas. Esportivamente, Van Persie tem um abacaxi nas mãos.
Uma defesa esvaziada
A situação defensiva do Feyenoord é crítica. Sem Hancko e Beelen, restam como opções no elenco:
- Gernot Trauner, que ainda se recupera da Euro e precisará de tempo para atingir o ritmo ideal;
- David Sanchéz, recém-contratado do Villarreal, que ainda não estreou;
- Slory e Kleijn, jovens da base sem rodagem suficiente para assumir protagonismo.
O clube já vinha no mercado em busca de um zagueiro canhoto, mas com Beelen fora, será necessário buscar dois defensores. O problema? As janelas se encurtam e os alvos escapam. Schuurs, do Torino, foi sondado, mas está fora do alcance. Wellenreuther e Hancko já foram, e a reposição ainda não chegou.
Um elenco enfraquecido, uma diretoria lenta

A verdade é que a política de vendas do Feyenoord está descolada da capacidade de reposição. Até aqui, o clube arrecadou mais de 90 milhões de euros com as saídas de Hancko, Paixão, Wieffer e Giménez. Contudo, as contratações se arrastam. Van Persie, em sua estreia como técnico profissional, esperava contar com ao menos 80% do elenco até o início de julho. Não conseguiu nem 60%.
As contratações até agora foram:
- Milos Kerkez, lateral-esquerdo do AZ — ainda em negociação;
- David Sanchéz, zagueiro espanhol — ainda não treinou;
- Alberto Moleiro, meia-atacante do Las Palmas — trata lesão e só estreia em outubro;
- Ramiz Zerrouki, de volta ao clube após lesão — fora de ritmo.
São apostas, não reforços prontos. E isso cobra um preço alto.
Robin van Persie e o peso da herança

Van Persie assumiu o comando técnico com respaldo popular e da diretoria. Mas é impossível não reconhecer que o clube está lhe entregando um elenco desmontado. A falta de peças defensivas, somada à ausência de soluções imediatas no mercado, gera uma instabilidade incômoda. Ainda mais com uma Supercopa contra o PSV no dia 4 de agosto e a fase preliminar da Champions League logo em seguida.
O treinador tem ideias claras: posse de bola, marcação alta e construção desde a defesa. Mas como aplicar isso sem zagueiros de qualidade? No jogo contra o Gent, o Feyenoord abusou de lançamentos diretos e sofreu defensivamente nas bolas longas. A identidade do time está em risco.
O problema estrutural do Feyenoord

O modelo do Feyenoord precisa de revisão. O clube fatura bem com vendas, mas não consegue repor no mesmo ritmo. O excesso de apostas em jogadores lesionados — como Moleiro e Zerrouki — aumenta o risco. E a demora na chegada de reforços faz com que Van Persie tenha que improvisar soluções em vez de construir uma equipe.
É urgente equilibrar a balança. Se o clube quiser manter-se competitivo na Eredivisie e fazer bonito na Champions League, precisa investir com mais ambição. Vender bem é ótimo. Mas só vale se for possível transformar isso em títulos — ou pelo menos em continuidade esportiva.
Considerações finais
O Feyenoord de julho é um clube em transição. Entre os milhões que entram e os pilares que saem, o projeto esportivo de Van Persie está em risco. A torcida aguarda. O tempo aperta. E o mercado não perdoa hesitações.
O De Kuip, que deveria estar celebrando uma nova era sob o comando de uma lenda do futebol, vive dias de apreensão. E o alicerce da defesa, base de qualquer time campeão, está sob ruínas.