SELEÇÃO HOLANDESA

O Declínio das Leoas: como a seleção feminina da Holanda fracassou na Euro 2025 e o que vem pela frente?

Seleção da Holanda Feminina

A Eurocopa na Suíça foi um marco doloroso para o futebol feminino holandês. A eliminação precoce na fase de grupos não foi apenas um tropeço esportivo, mas um sintoma de problemas mais profundos dentro e fora de campo. As Leoas Holandesas, que já foram referência no continente, fracassaram de forma contundente. Para entender esse declínio, precisamos analisar a atuação dos principais envolvidos: KNVB (Federação Holandesa), comissão técnica, jogadoras e o contexto europeu. Neste artigo, destrinchamos os fatores que culminaram no colapso da Oranje Vrouwen e discutimos os caminhos possíveis para uma nova era.

Parte 1 — A Grande Responsável: A KNVB e os Erros de Gestão

A Real Federação Holandesa de Futebol (KNVB) não apenas falhou nos bastidores, como contribuiu ativamente para a instabilidade da seleção feminina. A decisão de não renovar com o técnico Andries Jonker foi anunciada ainda em janeiro, mais de cinco meses antes do início do torneio. A federação alegou que não queria interferir na preparação para a Euro, mas acabou fazendo exatamente isso.

Louis van Gaal, em entrevista, foi direto ao ponto: “Como vocês podem fazer isso?”. O momento do anúncio foi um desastre. Em vez de proteger o elenco e a comissão técnica, a KNVB criou um ambiente de especulação, insegurança e dúvida.

Nigel de Jong, diretor técnico, optou pelo silêncio. Não explicou os motivos da decisão, não acalmou o elenco e nem blindou Jonker. Pior: em abril, antes mesmo do torneio começar, a federação anunciou Arjan Veurink como novo treinador da seleção a partir de outubro. Essa dupla comunicação gerou ruído dentro do grupo. A KNVB errou no tempo, no tom e na estratégia. E quando isso acontece, as consequências aparecem em campo.


Parte 2 — A Comissão Técnica: Idealismo e Falta de Autocrítica

Andries Jonker, claro, também tem culpa. É o técnico. O comandante. A figura que deveria ter liderado o processo com firmeza e coerência. Mas não foi isso que aconteceu.

Jonker é conhecido por seu idealismo. Ele acredita no futebol ofensivo, na posse de bola, na construção a partir de trás. Tudo isso é louvável — até o momento em que se torna ingênuo. Contra seleções como Inglaterra e França, não se pode abrir tantos espaços. A Oranje foi vulnerável. Desorganizada. Expôs sua defesa de forma perigosa.

O técnico insistiu em sistemas táticos que não funcionaram, mexeu mal durante os jogos e foi inflexível em certas decisões. O exemplo mais claro? A insistência em escalar Sherida Spitse, mesmo sabendo que sua capacidade física já não corresponde ao nível exigido. A entrada dela contra a Inglaterra no intervalo, perdendo por 2 a 0, é simbólica. A Holanda ficou ainda mais lenta, mais vulnerável. E foi atropelada.

Outro erro foi manter Esmee Brugts na lateral. Ela é uma atacante talentosa, com faro de gol. Mas definhou em uma posição que não é a sua. E nas horas decisivas, era substituída, como se fosse culpada pelo mau rendimento coletivo.

Jonker também se cercou de auxiliares que pouco o confrontaram. Faltou alguém que pensasse diferente, que o desafiasse, que oferecesse outra leitura dos jogos. Janneke Bijl e Arvid Smit são competentes, mas pensam como Jonker. E, nesse caso, isso foi um problema.


Parte 3 — O Vestiário: Falta de Liderança e Autoconfiança Exagerada

As jogadoras holandesas também precisam assumir sua parcela de responsabilidade. A grande maioria atua em clubes importantes da Europa, como Barcelona, Arsenal, Wolfsburg, PSG. Mas quando vestem a camisa da Oranje, parece que falta algo.

Falta liderança. Falta personalidade. Falta alguém que puxe o grupo, que seja voz ativa dentro e fora do campo. Sherida Spitse tenta, mas não convence. Suas atitudes incomodam mais do que inspiram. Jackie Groenen é uma operária de luxo, corre, marca, organiza, mas não é uma voz de comando. Daphne van Domselaar se destaca debaixo das traves, mas é difícil ser líder sozinha.

E há outro problema grave: muitas atletas superestimam sua qualidade. Acham que pertencem à elite do futebol europeu, quando, na prática, não estão entregando esse nível há um bom tempo. A diferença técnica, física e mental para seleções como Inglaterra, França e Alemanha foi visível. O choque de realidade veio forte.

Além disso, a forma como lidaram com a decisão da KNVB sobre Jonker também deixa dúvidas. Se realmente foram consultadas — como dizem fontes internas — e recomendaram que ele não continuasse, então deveriam ter sido firmes: ou sai agora ou não vai adiantar. Em vez disso, ficaram em cima do muro. Resultado: o elenco entrou rachado, inseguro e confuso.


Parte 4 — As Gigantes da Europa: Inglaterra e França Exibem a Nova Realidade

O sorteio da Eurocopa não foi generoso com a Holanda. Enfrentar Inglaterra e França logo na fase de grupos é, de fato, um desafio. Mas, convenhamos: se a Oranje almeja estar entre as melhores, precisa encarar — e vencer — as melhores.

O que se viu foi um abismo. A Inglaterra, atual campeã europeia, dominou o jogo físico, técnico e tático. A França foi eficiente, objetiva, organizada. Ambas as seleções mostraram o que é o futebol de alto nível em 2025. Pressão constante, intensidade, mentalidade vencedora.

Jonker sempre disse que só colocava a Espanha acima da Holanda. Mas, se observarmos friamente, Alemanha, Suécia, Itália e até Noruega estão hoje à frente. Até a Suíça, anfitriã, mostrou mais coesão e entusiasmo do que a seleção holandesa.

A verdade é que saímos da primeira divisão. Caímos. E o caminho de volta exigirá mudanças profundas.


Parte 5 — O Que Vem Pela Frente: Arjan Veurink e a Nova Era

Com a queda confirmada, inicia-se uma nova etapa na história da Oranje Vrouwen. Arjan Veurink, de 38 anos, assume em outubro com uma missão clara: recolocar a Holanda entre as grandes potências do futebol feminino europeu.

Ele tem contrato até 2029, tempo suficiente para construir um novo ciclo. O primeiro grande objetivo? Classificar a seleção para a Copa do Mundo de 2027, que será disputada no Brasil. Para isso, precisará tomar decisões difíceis desde o início.

Daniëlle van de Donk já anunciou que esta Euro foi seu último torneio. Ainda não se sabe se ela se aposentará imediatamente. Spitse também está na corda bamba. Aos 37 anos em 2027, dificilmente terá condições de jogar em alto nível. A KNVB deveria organizar partidas de despedida para ambas. Elas merecem esse reconhecimento.

Jogadoras como Jackie Groenen, Dominique Janssen, Jill Roord, Miedema e Beerensteyn ainda têm lenha para queimar, mas sentem o peso da carga física e emocional. O calendário está brutal, e os corpos estão cobrando a conta.

Veurink terá que avaliar o grupo com frieza. Precisará apostar em nomes novos, mudar a forma de jogar e reconquistar o torcedor. Porque, neste momento, a confiança está abalada.


Parte 6 — Conclusão: Reconstruir é Preciso

A Eurocopa de 2025 ficará marcada como o fim de um ciclo. Não apenas por causa dos resultados, mas pelo que simboliza: um sistema que se desgastou, lideranças que se perderam e uma federação que precisa reaprender a gerir com seriedade.

A reconstrução será longa. Mas é possível. A Holanda tem talento. Tem estrutura. Tem história. O que falta, neste momento, é coragem para mudar.

A chegada de Arjan Veurink pode ser o sopro de renovação necessário. Mas ele não pode fazer isso sozinho. É preciso uma KNVB mais transparente. Uma comissão técnica plural. Jogadoras com mais autocrítica e menos ego. E, acima de tudo, uma cultura de responsabilidade e ambição realista.

Porque, se não aprendermos com o fracasso da Suíça, corremos o risco de torná-lo rotina.

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