Hoje, recordamos a jornada de um dos maiores atacantes de todos os tempos. Entre perdas, inseguranças, superação e dores, Marco van Basten construiu uma trajetória memorável — da vingança pessoal às glórias que garantiram seu lugar no panteão do futebol mundial.
1. A recessão pós‑1978 e a urgência por um novo herói
Após a dolorosa derrota na final da Copa de 1978, no Argentina, o futebol holandês entrou em um limbo. A geração de Cruijff envelhecia, e o declínio era evidente: a seleção perdeu fôlego, os clubes pararam de brilhar e faltava um novo ícone. Era o momento de reflexão — e de recomeço.
2. O começo tímido: Van Basten faz barulho
Em 1982, uma semente surgiu: Marco van Basten, ainda com 18 anos, estreava na Eredivisie pelo Ajax. Discreto, falante, modesto. No verão de 1983, em entrevista ao Voetbal International, ele confessou:
“Quem é você então? Porque eu ainda não sou nada…”
A serenidade chamava a atenção. Ele sabia que estava apenas começando — e que ainda haveria muito por atrás da camisa 9 do Ajax.
3. O batismo de fogo: México 1983, Copa Sub‑20
Na Copa Sub‑20 de 1983, no México, a Holanda quase foi ouro. Van Basten marcou logo de cara, a equipe chegou às quartas e caiu para a Argentina por 2 a 1. Ele afirmou:
“O caos acabou, o futebol agora é o principal.”
E aquele verão foi decisivo: o jovem atacante deixava de brincar e passava a vestir a camisa de craque a sério.
4. Da sombra à explosão: Eredivisie 1983/84
Em 1982/83 foram 10 gols em 31 jogos. No ano seguinte, foi um estrondo: 28 gols e status de arma letal no Ajax. O talento florescia em campo — e também na cabeça do maior clube da Holanda. O recado estava claro: a safra estava de volta.
5. O vazio do início dos anos 80
Mas o cenário nacional ainda não era promissor. Os clubes da Eredivisie se esvaziavam da Europa já nas fases iniciais; a seleção era barrada das Copas de 1982, 1986 e da Euro de 1984. A Holanda, antes potência, virou quem observava. E o sucesso exigia urgência.
6. Outros gênios despontavam
Em meio ao vazio, surgiam promessas: René Eijkelkamp, Gerald Vanenburg, Stanley Menzo, entre outros. A Sub‑18 de 1982 na Finlândia mostrou que havia matéria-prima — mas ainda faltava lapidar o diamante que viria a ser van Basten.
7. O aprimoramento além do futebol
Em diálogo com Bert Nederlof, van Basten revelou curiosidade por esportes variados: tênis de mesa, tênis, beisebol e saltos ornamentais. Ele chegou à segunda divisão no tênis de mesa — sem brilhar tanto quanto nos gramados laterais.
Ele afirmou:
“Joguei tênis de mesa… era completamente diferente, divertido, mas não era excepcional. Escolhi o futebol porque tinha mais talento para isso.”
O equilíbrio entre talento e paixão estava claro, mesmo com interesses variados.
8. Estrela chega à Eredivisie
Menos de dois anos depois, ocurrió: estreou na Eredivisie — substituiu Cruijff e marcou no 5 a 0 contra o NEC, com nota 8 do VI. Era o selo da convocação: o mundo reconhecia um novo predestinado.
9. O vácuo de Cruijff e seu impacto
Naquele momento, o Ajax não conseguiu renovar com Cruijff. Van Basten, emocionado, disse:
“Taticamente aprendemos muito com ele… foi meu ídolo.”
Ele então compreendeu que sua jornada tinha raízes — no universo do General.
10. Pressão da seleção: Rijvers aposta no futuro
Em 1982, o técnico Kees Rijvers já o via como “o futuro atacante da seleção”. Ele foi cauteloso:
“Enquanto não estiver no time principal, não deveria pensar na seleção.”
Mas o recado estava dado: havia expectativa — e responsabilidade — no horizonte.
11. Outono 1983: gol histórico e estreia definitiva
Em setembro de 1983, hat-trick contra o Feyenoord de Cruijff (8‑2) virou hino da rivalidade. Pouco depois, estreou na seleção adulta, contra Islândia. Em 12 de outubro, brilhou contra a Irlanda — dois gols, virada e esperança de reconstrução.
A febre glandular o afastou das eliminatórias. Mesmo assim, o sinal da virada estava no ar.
12. Segredo do equilíbrio: entrevista de 1984
Na segunda grande entrevista ao VI, van Basten revelou serenidade:
“A atitude de ‘vou ver e fazer o meu melhor’ é a melhor… Para evitar que me abandonem, tento manter a calma.”
Era um prodígio consciente do pedestal — e preparado para enfrentá-lo.
13. Decisões à vista: ficar ou partir?
Com disputas financeiras internas, o Ajax considerou vendê-lo. Ele comentou:
“Às vezes penso em Itália, Espanha, estádios lotados… mas ainda sou muito jovem. Tem que ser um passo consciente.”
A prudência era arma certeira.
14. 1987 — o inevitável salto ao Milan
Aos 22 anos, ele desembarca no Milan, superclube italiano. O presente de despedida? Gol-chave na final da Copa dos Campeões Europeus II contra o Lokomotive Leipzig.
Enquanto isso, o PSV vencia a Champions em 1988, com craques como Koeman, Rijkaard, Gullit e Vanenburg — prenúncio de vitória por toda a Holanda.
15. O ápice: Euro 1988 e a glória holandesa
Menos de cinco anos depois de sua entrevista tímida, van Basten conduz a Oranje ao ouro europeu. Gols, técnica, inteligência. Mundialmente eleito melhor atacante.
Ele revelou, após susto na juventude:
“Atacantes são raros… é aí que está o potencial.”
O talento virou lenda.
Conclusão: lições na trajetória de Van Basten
A caminhada de Marco van Basten é um manual de talento, moderação, confiança e crescimento. De garoto tímido a herói nacional, de futuro incerto a referência universal.
É também um retrato da Holanda — do vazio dos anos 80 ao retorno triunfal. Um símbolo de que um país de tradição pode reerguer-se com paciência, competência e fé.