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Orkun Kökçü: “Eu me enganei”

ENTREGUE

Confira a entrevista exclusiva de Orkun Kökçü ao site VI.

No próximo domingo, teremos mais um De Klasieker na história do futebol holandês. O maior clássico da Holanda entre Feyenoord e AFC Ajax acontecerá em Roterdã, em De Kuip, casa do Feyenoord.

Essa partida é extremamente especial para Orkun Kökçü. O meio-campista e capitão do Feyenoord, já disputou mais de 150 partidas pelo Stadionclub, mas nunca disputou um clássico com torcida. O capitão da equipe de Roterdã está muito ansioso para o De Klasieker.

O que o De Klasieker desencadeia no capitão do Feyenoord?

“Muita curiosidade. Eu já joguei mais de 150 partias oficiais pelo Feyenoord, mas nunca um clássico com torcida no estádio. O domingo será totalmente diferente para mim”

O Feyenoord começará a partida como líder e independente do que aconteça no clássico, vocês terminarão na liderança. Vocês imaginariam isso no começo da temporada?

“Jamais. Perdemos jogadores como Cyriel Dessers, Bryan Linssen, Luis Sinisterra, Marcos Senesi, Guus Til e Tyrell Malacia. Não posso dizer que foi um bom começo de temporada. Não entramos em pânico, mas eu estava preocupado com o que aconteceria com a nossa equipe. Nós tivemos que começar do zero, após uma excelente temporada. Quando eu vi Fredrik Aursnes deixando o nosso time para assinar com o Benfica, eu fiquei muito mais preocupado. Ele era um grande parceiro meu dentro de campo. Nosso time que chegou à final da Conference League foi completamente desfeita”

Por qual motivo você ficou?

“Porque não chegou uma proposta que fosse boa para mim e nem para o clube. Quando eu vi que realmente ficaria, eu fiquei chateado por um tempo. Nós perdemos muitos jogadores e pensei que teríamos uma temporada bem complicada pela frente. O que me impressionou mais foi que quando conversei com Arne Slot, ele estava extremamente calmo. Eu vinha conversando com ele durante toda a janela de transferências do começo da temporada. Eu disse a ele que queria ganhar títulos e ele sorriu e me disse que não poderia prometer que iríamos ganhar títulos, mas que montaríamos novamente um time bastante competitivo e me pediu para eu ter um pouco de fé. Agora, estamos na liderança da Eredivisie, ainda estamos vivos na Copa da Holanda e com um elenco em que quinze jogadores foram substituídos no começo da temporada”

Olhando para trás, você agora está feliz por ter continuado no Feyenoord?

“Sim, porque você o que mais me chamou atenção, foi que após a conversa com Arne Slot, eu também fiquei muito calmo e comecei a acreditar ainda mais no trabalho dele, da nossa comissão técnica e diretoria. E eu me perguntei por qual motivo eu fiquei tão calmo, e a resposta é que ele sabe exatamente o que está fazendo. Ele geralmente prevê o que irá acontecer dentro do jogo e geralmente acontece”

Então havia todas as razões para você continuar?

“Já fui derrotado algumas vezes, mas nunca tão duro quanto no primeiro tempo contra a SS Lazio na Itália. Antes do intervalo, estávamos perdendo por 4 a 0. Nosso time estava extremamente confuso. Quando conversamos com Arne Slot no intervalo, conseguimos ajustar algumas coisas e voltamos melhores. Ao chegar em Roterdã, Arne Slot mostrou imagens do primeiro e segundo tempo e pudemos entender bem quais os erros que cometemos na Itália. Dois meses depois, recebemos a SS Lazio em casa e vencemos por 1 a 0. Isso mostra que estávamos evoluindo”

E se você comparar o Feyenoord desta temporada com o elenco da temporada passada?

“Eu não sei se estamos melhores agora. Talvez não, ainda não. Mas o que temos de novo é o espírito de equipe. Nós estamos preparados para defender uns aos outros, isso é uma excelente energia. Até agora, só perdemos uma vez, frente ao PSV. Com tantos novos jogadores, é incrível o que estamos construindo. As lesões de Gernot Trauner e Quinten Timber foi um duro golpe para o nosso elenco”

O elenco é bom o suficiente para ganhar a Eredivisie?

“Agora estamos na liderança. Se ainda estivermos lá dentro de um mês, ouso dizer que temos uma grande chance. Agora temos que permanecer humildes, trabalhar duro e acreditar que é possível”

Sente que você está sendo observado com uma lupa neste Feyenoord?

“Sim, porque recebo críticas boas e ruins a todo momento. No começo da minha carreira, isso tudo mexia demais comigo, hoje em dia, em as críticas não parecem me afetar mais. Por exemplo, na semana passada, quando jogamos contra o FC Utrecht, Kenneth Perez apresentou uma estatística de que eu havia perdido a posse de bola diversas vezes no jogo. Acredito que está correto o número dele, embora esses números não digam absolutamente nada. Por qual motivo ele não trouxe informações de como eu perdia essa posse de bola, quais as ações que meus companheiros tiveram? De qualquer forma, ele veio com isso. Outra coisa, por qual motivo ele não trouxe o número da temporada? Parece que ele está esperando por isso e não me surpreendo mais com esse tipo de situação. Aparentemente, ele não me acha um bom jogador, e respeito a visão dele”

Você está ansioso para encontrar Steven Berghuis novamente?

“Sim, é claro”

Você costumava ter duras divididas com eles durante os treinamentos no Feyenoord.

“Eu sempre jogo duro, principalmente nos treinamentos. São nesses momentos que precisamos lutar ainda mais para garantir nossa vaga no time titular. Mas quando treinamos com alta intensidade, temos que jogar duro. Os jogadores de Ajax e Feyenoord não se odeiam, pelo contrário, se respeitam demais. Eu joguei diversas vezes contra Jurriën Timber e Kenneth Taylor. Nós conversamos fora de campo, mas é evidente que o clássico dentro de campo, faz com que deixemos nossas amizades fora das quatro linhas e busquemos os resultados que queremos para os nossos clubes”

Você nunca ganhou um De Klasieker, isso mexe contigo?

“Nas categorias de base, conseguimos boas vitórias, mas sabemos que o que realmente importa são os jogos do time principal. Então está na hora de eu ganhar. Você tem que vencer grandes jogos, e é por isso que perder a final da Conference League dói tanto. Não tenho nenhum problema em olhar para o passado, foi um duro aprendizado. A AS Roma realmente foi para aquela partida para vencer. Eles não estavam interessados em jogar futebol. Marcaram o gol e não teve mais jogo”

Você acredita que sua transformação como jogador de futebol está diretamente relacionada ao desenvolvimento do Feyenoord enquanto clube?

“Sim. Não podemos desvincular uma coisa da outra. Não podemos comparar o Feyenoord com aquele clube que presenciei quando cheguei no time principal. Desde a chegada de Arne Slot, temos treinamentos completamente diferentes, inclusive com treinadores específicos para cada tipo de situação. Tudo é medido. Em uma semana treinamos com a intensidade elevadíssima, na semana seguinte, diminuímos o ritmo. Resumindo, existe uma lógica por trás de tudo que Arne Slot faz conosco”

Quando você sentiu que a mudança começou?

No jogo fora de casa contra o FC Drita. Aquela partida terminou empatada em 0 a 0. Existe jogos que infelizmente não conseguimos jogar bem, mas essa partida fui horrível. Eu não me senti bem, não consegui tocar a bola. Arne Slot falou que esperava muito mais de um jogador com as minhas habilidades. Eu não podia dizer nada, ele estava absolutamente correto. Em Kosovo percebi que poderia culpar todos, mas eu entendi que ali era apenas minha responsabilidade virar a chave. Eu precisava mudar minhas ações para me tornar um jogador melhor.

Qual foi o primeiro passo?

“Girei a chave em minha cabeça. Tyrell Malacia já havia mencionad que queriatarbalhar comigo. Ele treinou muito sozinho e se beneficiou disso. Embora eu o visse ficando mais forte mês a mês, eu realmente não sentia que era necessário eu fazer isso também. Mas depois vi que eu estava me sabotando a muito tempo”

Você precisou superar alguma coisa?

“Continuar do jeito que estava não era uma opção. Um dia fui com Tyrell Malacia para aquela academia que ele frequentava. Ele estava feliz, mas o que disse a seguir não aumentou exatamente meu entusiasmo. Na verdade, o suor começou a brotar em mim. Isso foi em uma segunda-feira que pisei pela primeira vez naquela academia. Pensei em treinar com Tyrell Malacia, mas ele nem olhou para mim e foi fazer o programa dele. Ele estava muito mais avançado do que eu”

Então você teve que fazer tudo sozinho?

“Eu esperava uma academia de última geração, mas era tudo menos brilho e glamour. Havia um cheiro de ginásio tão real. Onde eu fui parar? Eu pensei naquele momento. O que mais me chamou atenção foi o silêncio. Todos estavam focados em suas atividades. Nós começamos com alguns exercícios leves e logo fiquei completamente branco. Jordan, o treinador, não agiu como se estivesse muito feliz por eu ter vindo treinador. Ele era muito profissional. Então percebi que eu não era nada ali. Haviam diversas pessoas naquele lugar que poderiam fazer mais do que eu, que eram muito mais fortes e em forma. Depois de vinte minutos, paramos. Ele disse que meu físico era uma vergonha para um jogador que veste a camisa 10 do Feyenoord. Claro que eu mesmo sabia, mas agora estava realmente sendo confrontado.

Quando você sentiu o progresso?

“Bem rápido. Eu comecei a treinar melhor no Feyenoord e fiz exercícios extras na academia do Jordan e do Hans. Eu comecei a perceber que eu estava ficando mais forte fisicamente. Então eu realmente entendi. Toda a minha gordura se transformou em músculo, então não perdi peso, mas me senti muito menos pesado. Comecei correr cada vez mais fácil, para que um dia não precisasse mais usar meias altas. Sempre fiz e não porque gostava tanto. A razão era que eu sempre tinha cãibras nas panturrilhas. Isso porque eu não estava em forma. Quando me vejo agora, com as meias mais baixas, me sinto outro jogador”

Agora você pode fazer o que nunca pensou que poderia fazer?

“Sim, com toda certeza. Agora, se você me perguntar o que sou em campo, eu digo que sou um meio-atacante controlador. Um ano e meio atrás eu teria dito que sou um camisa 10. Eu não quero mais nada. O lugar onde jogo agora é uma posição privilegiada para mim, até porque agora tenho de fato o conteúdo para isso. Tudo que fiz e faço nesse trabalho extra, compensa. Slavia Praga em casa, AZ Alkmaar em casa, essas foram algumas das partidas em que eu me sentia voando em campo. Atacava, roubava bola, fechava espaços, foi sensacional”

“Eu poderia me penalizar por não ter tido esse pensamento mais cedo. Tudo começa com trabalho duro, mas aparentemente isso é algo que você tem que deixar para trás. Acho que também faz parte do nosso processo de amadurecimento. Em algum momento sentimos que tudo está escapando das nossas mãos e precisamos mudar. Eu tenho sorte de ter percebido isso a tempo e de haver pessoas que queriam me ajudar, como Arne Slot, os outros treinadores do Feyenoord e da academia de Jordan e Hans”

Você quer sair do Feyenoord?

“Essa era uma questão no passado. Mas agora parece que encontrei a paz. Até um ano atrás eu queria sair de toda forma do clube. Sempre foi meu sonho jogar fora da Holanda. Quando começamos a saber quanto os outros jogadores recebem, nossos olhos brilham. Eu tinha 18 anos e queria garantir meu futuro. Meu pai deve ter ficado louco por mim também. Como joguei bem nas categorias de base e sempre marcava gols, nunca deixou de ter interesse sobre mim. Claro que eu queria saber tudo que estava acontecendo e a cada nova notícia, eu já estava fazendo novos planos. Como seria se eu fosse para o Arsenal aos 18 anos? Como seria minha vida na Espanha? Agora tenho 22 anos e penso diferente. Rumores não me afetam mais. Também li que se o Enzo Fernández fosse para o Chelsea, o Benfica iria querer me tirar do Feyenoord. Independente de qualquer coisa, a paz na minha cabeça não tem preço. Meu foco é o Feyenoord e jogarei pelo clube nos próximos dez anos, mas sei que isso dificilmente vá acontecer”

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