SELEÇÃO HOLANDESA

MEGAENTREVISTA: Ruud van Nistelrooij comenta sobre os primeiros seis meses como treinador do PSV Eindhoven

Ruud van Nistelrooij

Em alguns dias, Ruud van Nistelrooij completará seis meses de trabalho no comando do time principal do PSV Eindhoven. Nesses primeiros seis meses como treinador profissional, diversas coisas já aconteceram. Ruud van Nistelrooij e sua equipe venceram a SuperCopa da Holanda contra o AFC Ajax, na Johan Cruijff ArenA, em Amsterdã. Os Boeren perderam a chance de disputar a UEFA Champions League 2022/23, na última fase dos Play-Offs. Na Eredivisie, os comandados de Ruud van Nistelrooy já venceram o AFC Ajax e o Feyenoord. Mas o ex-centroavante da seleção holandesa teve muitos problemas para transformar o PSV em uma equipe dentro de campo. Não podemos esquecer das derrotas fora de casa para SC Cambuur e FC Groningen. Após três semanas de férias e avaliações, Ruud van Nistelrooij recarregou a bateria e demonstra está superanimado para a segunda e última parte da temporada.

Como foi para você ter três semanas de férias no meio de uma temporada, da sua primeira temporada como treinador profissional?

“Um pouco louco, voltei e tive a sensação de boas intenções. Pensei em ir malhar mais, mas ainda temos o Natal e o ano novo pela frente”

Você precisava de férias?

“O que tenho notado é que me acalmei fisicamente e mentalmente. Eu sempre tento me exercitar quatro vezes por semana, o que é importante para mim. Sinto a responsabilidade e a pressão como treinador do PSV e acho que posso lidar melhor com isso quando estiver fisicamente bem. Esforço físico, também para aliviar a pressão que tenho na minha cabeça. Nas últimas semanas, notei que as emoções diminuíram. Então você também pode olhar para trás com calme e pensar em tudo que aconteceu. As conclusões que tirei foi de que gostei dos primeiros seis meses e que estava muito cansado depois do duelo contra o AZ Alkmaar”

Cansado do que exatamente?

“Desde o meu início, toda as partidas, os altos e baixos, como eu queria colocar meu time em uma determinada direção e tudo o que aconteceu entre a administração e o Conselho Fiscal. Eventualmente, você relaxará completamente e a energia e as ideias virão rapidamente para continuar e melhorar as coisas”

Há exatamente um ano atrás, você olhou para o futuro.

“Sim, isso mesmo. Eu disse que não queria ser técnico do time principal do PSV ainda. Era impossível pensar que seria treinador do time. Mais tarde, expliquei por que finalmente quis. Estou feliz por ter feito isso, embora seja um trabalho muito difícil”

Você subestimou o trabalho?

“Não, mas também superestimei. Você não pode realmente imaginar isso. Não tem como prever. Você tem que entrar e sentir tudo que está acontecendo. Só não pensei que tanta pressão viria para um treinador. Posso conversar muito bem sobre isso com Fred Rutten, porque ele é o único que sabe como é. Falei com alguns outros treinadores, mas é realmente quando você começa a trabalhar que você sente tudo”

Conversou com Alex Ferguson?

“Sim, falei com ele em Glasgow antes do jogo contra o Rangers FC. Ele foi treinador do Manchester United, uma pressão ainda maior. Embora seja mais sobre assumir responsabilidades do que sobre o tamanho do clube”

Como você sente a pressão que vem com este trabalho?

“Não consigo nem explicar em palavras. É mil vezes diferente do que era quando eu estava como treinador do Jong PSV, embora minha passagem por aquela equipe e os anos anteriores me ajudaram bastante. Quando aceita o cargo de treinador, é necessário entender que a pressão é cada vez maior, sempre”

Como jogador de clubes como Manchester United e Real Madrid, você precisou lidar com pressões parecidas, certo?

“É completamente diferente, porque como treinador a responsabilidade é muito maior. No começo eu me sentia responsável por tudo de dentro do PSV. E ao passar do tempo, fui entendendo que não era assim”

Quando você entendeu que era necessário ser diferente?

“Por exemplo, tive uma sensação horrível na eliminação contra o Rangers FC. Eu me senti realmente responsável por tudo aquilo. Eu estava muito triste comigo e com as minhas decisões. Mas depois de alguns dias, entendi que se eu me sentisse assim todas as vezes que uma derrota dura acontecesse comigo, não iria durar por muito tempo nesse meio. É necessário lidar com isso, aprender e seguir em frente. Eu sou o principal responsável pela equipe, mas trabalhamos como um time, todos temos as nossas responsabilidades dentro do processo”

Logo na sua primeira temporada, mais precisamente no começo, John de Jong, diretor de futebol do PSV, foi demitido. Como você trabalhou com essa notícia?

“Eu gostei de me expressar sobre isso na imprensa. Dar a minha opinião abertamente e dizer o que penso disso. Eu discuti isso depois, com o Conselho Fiscal e a administração, e é claro, conversei com John de Jong. Ele apenas me disse para continuar em frente. John de Jong tinha muita confiança no meu trabalho. Foi bom trabalhar com ele”

Você poderia ter feito mais sobre isso?

“Foi um fato consumado, não me perguntaram absolutamente nada. Então, eu poderia ter dado a minha opinião. Mas o estrago já estava feito, a confiança foi perdido”

Você perdeu mais tempo por causa da saída de John de Jong?

“É claro que quando perdemos pessoas que são fundamentais para os nossos processos, impacta de forma negativa. Marcel Brands é um grande profissional e que está nos ajudando bastante”

Você está satisfeito com os primeiros seis meses de trabalho?

“Nós ganhamos a SuperCopa da Holanda, avançamos para o mata-mata da Liga Europa e estamos numa boa posição na Eredivisie. A derrota para o AZ Alkmaar foi pesada, pois estávamos em uma boa fase, com bons jogos contra Arsenal, FK Bodø/Glimt e AFC Ajax”

Queres que o PSV jogue da sua maneira, você acredita que o time já consegue apresentar um desempenho que lhe agrade?

“Nós conseguimos melhorar a cada partida, mas descobrimos que não estava indo bem. Demorou. Sempre tivemos que treinar jogadores de forma individual. Muitos estavam acostumados com a forma de jogo de Roger Schmidt. Os padrões disso estão enraizados na equipe. Uma transformação de mentalidade e estilo de jogo, leva tempo”

Os resultados interferem na tua forma de ver e conduzir a equipe?

“Sim, somos o PSV. É por isso que todos estão trabalhando arduamente juntos. No momento, 90% dos jogadores estão em forma, estamos trabalhando nosso elenco. Passamos muito tempo com diversos jogadores fundamentais, machucados. Nós estamos construindo algo novo”

Após a derrota para o SC Cambuur, vimos um PSV diferente. O que aconteceu depois daquele jogo?

“Claro que aproveitamos esse resultado e a forma como jogamos, para fazer mudanças na equipe. Isso era inaceitável. Eu conversei com todos. Essa foi uma das vezes que eu reagi com mais firmeza. Eu deixei claro o que eu via daquela derrota para cada um deles”

Como isso funcionou?

“Eu uso a emoção. Eu sou apaixonado por futebol e esse tipo de desempenho e comportamento dentro de campo, é inaceitável para mim. Eu mesmo experimentei isso enquanto jogador e não gostei nenhum pouco. Se você, como treinador, não aproveitar esses momentos para pular com toda a sua alma, então as coisas saíram do seu controle ainda mais rápido”

Nos seis minutos loucos antes do intervalo em Groninga, em que o FC Groningen marcou três gols e o PSV perdeu a partida, você demonstrou muita calma.

“Sim, porque achei incomparável com o jogo contra o SC Cambuur. Nós estávamos em uma boa sequência de jogos e resultados, então não fiquei preocupado. Depois do SC Cambuur, tive grandes preocupações e depois do primeiro tempo contra o FC Twente, também. Fiquei muito desapontado por termos perdido para o FC Groningen”

Após a derrota para o SC Cambuur, você pensou em desistir e pedir para sair?

“Não, eu entrei nisso e só sairei quando a diretor não me quiser mais. Quero levar o clube o mais longe possível. Essa é apenas a minha mentalidade”

Você quer dizer experiência esportiva máxima?

“Sim. E nesses momentos, tenho tolerância zero, realmente zero. Se eu vir um time com uma atitude dentro de campo tão lamentável como vi contra o SC Cambuur, eu vou para cima de cada jogador meu. Não aceito isso e nunca aceitarei. Perder é completamente normal e faz parte do jogo, mas não aceito perder da forma que perdemos aquela partida. Comigo, é obrigação que todos deixem tudo dentro de campo”

Isso não é complicado em um grande elenco, onde existe diversos jogadores, com mentalidades diferentes?

“Eu conheço todos os meus jogadores agora. Eles têm isso como base. Em última análise, também se trata de qualidade, mas essa experiência desportiva de topo é a base e esse é o maior talento que se pode ter. Foi com essa mentalidade, essa atitude que cheguei nos maiores e melhores clubes do mundo. Trabalhe duro, melhore, se olhe no espelho, seja um bom companheiro de equipe e tenha um comportamento exemplar”

Todos já entenderam essa mensagem?

“Sim, eles entenderam, mas se eles podem fazer tudo isso é outra questão. Você pode aderir essa mentalidade ou não, isso é claro para todos. Não podemos fazer isso de outra maneira. Depois do SC Cambuur, tudo explodiu, mas no final, achei que foi um momento de emoção muito forte. Entre os próprios jogadores, eles se cobraram demais”

Você tem receio que essa mensagem desapareça após três semanas de férias?

“Nós temos cinco semanas de preparação para isso, é algo que mencionei imediatamente assim que todos se reencontraram. Mas devo dizer que os jogadores voltaram muito bem. Frescos e descansados, todos estão ansiosos por retomar a temporada. Estou muito satisfeito com a forma na qual concluímos essas duas primeiras semanas de preparação. Eu realmente aproveitei. Fica claro como eu quero trabalhar, como é o planejamento e a execução. Tudo está claro para todos e você simplesmente volta a esse fluxo mais rápido”

Os jogadores que defenderam a seleção holandesa na Copa do Mundo, se reapresentarão ao PSV no dia 27 de dezembro. Como você viu seus jogadores na Copa do Mundo?

“Eu mantive contato com eles durante o torneio. Como eles experimentaram e como eles viram isso. Acho que eles se saíram muito bem. Também tive contato com Louis van Gaal, ele ficou muito feliz com o desempenho dos nossos jogadores”

O que você achou da seleção holandesa na Copa do Mundo?

“Acho que antes havia uma linha muita clara a ser seguida e Louis van Gaal foi muito aberto sobre isso desde o começo. É disso que se trata. Eu realmente gostei do que a nossa seleção fez na Copa do Mundo”

Houve muitas críticas ao modelo de jogo, então você pensa diferente da maioria?

“Acredito que por eu desligar o som durante os jogos, eu não entendo muito bem as críticas que estão sendo feitas”

Sério que você desliga o som?

“Sim, eu coloco uma música, minha playlist e fico assistindo ao jogo. Isso faz com que eu consiga analisar a partida de uma forma particular. Quero sentir isso por mim mesmo e estou orgulhoso do que a nossa seleção holandesa fez no Catar. Isso é tudo que eu sentir. Eu vi um espírito e uma organização muito grande. Com esse sistema e com esses jogadores, eles conseguiram render o máximo”

Você concorda que a seleção holandesa não foi tão ofensiva na Copa do Mundo?

“A escolha do sistema é baseada nos jogadores convocados. Você pode falar sobre o futebol holandês, sobre o DNA da Holanda. Mas não temos mais jogadores como Arjen Robben e Wesley Sneijder, então é necessário fazer mudanças para que a equipe consiga se tornar competitiva ao ponto de brigar contra as seleções que possuem grandes jogadores. Acho que Louis van Gaal fez um excelente trabalho. Desde que assumiu, vem ganhando, se classificando e fazendo algo com a equipe e com os jogadores que se dedicaram de corpo e alma”

Como você lida com as críticas que são direcionadas ao seu trabalho?

“Sempre escuto e vejo se consigo aproveitar algo. Muitas opiniões nos ajudam a melhorar e é necessário que possamos escutar. Isso é tudo que importa”

Você poderá diminuir mais o elenco?

“Estamos ainda em busca do melhor time. Como falei, 90% do nosso elenco está bem fisicamente e podemos contar, coisa que não aconteceu nesse começo de temporada. Agora, iremos começar a montar aquilo que queremos para esse time. Não sabemos ainda se iremos liberar alguns jogadores, esse momento de preparação nos ajudará a ter mais clareza sobre isso. Se entendermos que alguns jogadores dificilmente terão oportunidades conosco, iremos falar com a diretoria para que eles possam ser emprestados e consigam mais oportunidades em outros clubes”

Você tem medo de perder Cody Gakpo na janela de transferência que abrirá em janeiro?

“Foi maravilhoso como ele jogou na Copa do Mundo. Foi divertido de assistir ele em campo. Eu realmente gostei dele e ele merecia isso. Por causa de como ele se comportou, como continuou a trabalhar e a jogar, muitos clubes querem tirar ele daqui. Isso me deixa orgulhoso. Queremos contar com ele, pelo menos, até o final dessa temporada. Mas o destaque em cima dele foi muito grande. Veremos o que acontecerá”

Sua saída do clube será uma grande perca.

“Sim, mas chegará a hora, todos nós sabemos disso. Prefiro que seja ao final da temporada. Nós estamos trabalhando com todos os cenários. Os interesses do PSV são primordiais também. Não podemos fazer nada que não seja bom para o nosso clube”

Uma alta quantia terá que ser paga para comprar Cody Gakpo. Mas o que pesará mais, o interesse financeiro ou esportivo do PSV?

“Felizmente não sou eu quem lida com isso. Essa decisão terá que ser ponderada com muito cuidado dentro da gestão do PSV. Sabemos que como o PSV não estamos no topo da pirâmide do futebol. Portanto, precisamos vender jogadores cedo, para fechar as contas. Mas caso ele saía, acredito que a diretoria irá em busca de um substituto que possa continuar nos ajudando”

O que você espera da segunda parte da temporada?

“Estou super empolgado. Eu realmente gosto de como os meninos estão treinando e interagindo uns com os outros. Como eles se estimula, como vivenciam sua profissão e como se ajudam na forma como jogam. Nas quatro funções do jogo. Posse de bola, troca de passes, posse do adversário e troca após a posse do adversário. Devemos aproveitar ao máximo as nossas qualidades e potencializá-las. Quero continuar na linha que jogamos contra o Arsenal, FK Bodø/Glimt e Ajax”

Como você vê a disputa com Feyenoord, Ajax e AZ Alkmaar?

“Ainda não chegamos nem na metade da temporada. Apenas 14 partidas da Eredivisie foram disputadas. A competição existe e estamos todos brigando. Temos dez vitórias, mas perder quatro jogos em 14 partidas, é muito para um clube como o PSV. Tem muito a ver com a estabilidade dentro de campo. Precisamos melhorar esses números para conquistarmos a competição. Devemos retomar imediatamente a linha que iniciamos”

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