Desde a década de 1990, pesquisas e análises foram realizadas, conversas, reuniões. Em 2019, o tema voltou a ganhar força, mas ao que tudo indica, o plano foi jogado no lixo: A BeNeLeague não sairá do papel nesse momento.
Em um breve comunicado oficial através das redes sociais, a Eredivisie já deixou claro que os negociadores não chegaram em um entendimento e foi dado por encerrado a possibilidade de uma fusão da liga belga e holandesa.
De acordo com o comunicado, os seis clubes holandeses envolvidos nas negociações determinaram que não há apoio suficiente para montar a BeNeLeague. E que, no início do mês passado, uma delegação conversou com o chefe da UEFA, sobre os planos.
Onde a BeNeLeague deu errado?
Uma coisa é certa: os clubes holandeses sempre foram menos entusiasmados em relação a fusão das duas ligas. O presidente do AA Gent, também entendeu dessa forma.
“Estou decepcionado, mas meu realismo levou isso em consideração. Você tem que ligar com as duas culturas em ambos os países, havia obstáculos em termos de desigualdade de contratos e ainda havia muito a ser feito em relação a segurança da competição. Mas sempre achei que o entusiasmo maior era dos clubes belgas” disse o presidente do AA Gent.
O processo demorou muito
Segundo Pieter Nieuwenhuis, da consultoria Hypercube, especializada na criação de novas competições, existem três causas claras para o fracasso da BeNeLeague.
Pieter Nieuwenhuis esteve envolvido na criação da liga holandesa-belga de basquete que começou nesta temporada e na criação de várias outras competições europeias de futebol, incluindo o novo formatado da UEFA Champions League.
“Em primeiro lugar, demorou muito. Eles iniciaram o processo em junho de 2019 e manter o ritmo de criação de uma nova competição exige um lead time menor. A dinâmica de uma empresa muda em um período mais longo. Vários diretores se desgastaram com o tempo. E o status dos clubes também está mudando” disse Pieter Nieuwenhuis.
O presidente do AA Gent também aponta para esse último ponto.
“A Holanda está agora particularmente bem nas competições europeias, enquanto a Bélgica está caindo a nível europeu. Mas há três temporadas era exatamente o contrário” comentou o dirigente.
Pieter Nieuwenhuis citou a falta de engajamento dos clubes interessados como uma segunda causa.
“É preciso incluir todos na ideia, incluindo os clubes menores. Agora, seis clubes da Eredivisie participaram das negociações em nome de todo o futebol holandês e os outros doze não. Isso não foi algo inteligente para o sucesso da liga” comentou Pieter Nieuwenhuis
“Claro que o Ajax tem mais força política do que o Fortuna Sittard, mas o Fortuna Sittard deve fazer parte do processo e ser escutado sim. E isso também se aplica aos clubes das segundas divisões, torcedores, jogadores, empresas de televisão, patrocinadores e entre outros. Se você não fizer isso, será difícil de ter êxito” disse Pieter Nieuwenhuis.
E então, de acordo com Nieuwenhuis, o formato da competição também foi um problema. Inicialmente, a BeNeLeague consistiria em uma competição com 18 clubes, onde dez era da Holanda e oito da Bélgica.
É assim que seria a competição inicial de acordo com um documento redigido que chegou nas mãos da rede de televisão holandesa, NOS, em 2020.
“Haveria apenas uma divisão principal para todos os clubes e isso é o assassinato do futebol nacional. O Fortuna Sittard nunca mais jogaria contra o Ajax, Feyenoord ou PSV novamente. E esses são os eventos mais importantes da temporada para esses clubes”
A Holanda e a Bélgica também devem se despedir de três passagens europeias. Agora os dois países têm dez juntos, mas combinados haveria no máximo sete lugares iniciais na Europa, assim como na Premier League, por exemplo.
“Isso é terrível, muito do valor econômico agregado de uma competição seria perdido”
Não BeNeLeague, mas NL League
Na verdade, ficou claro no verão passado que essa fusão real entre a liga holandesa e belga não ocorreria. Os 34 clubes profissionais da Holanda anunciariam então planos para a chamada NL League.
Com isso, os clubes gostariam de ter mais voz dentro da organização do futebol nacional, assim como em muitos outros países europeus. Muitas responsabilidades agora são da KNVB, que dá menos atenção aos interesses comerciais.
A ambição da NL League parecia afetar os planos da BeNeLeague, embora isso não fosse necessário, de acordo com Nieuwenhuis.
O chamado “modelo de temporada dividida” permaneceu para a cooperação Holanda-Bélgica. A ideia é que antes do final do ano, ambos os países completariam uma competição doméstica, após as férias de inverno, os melhores clubes da Holanda e da Bélgica jogariam uma mini-BeNeLeague. Os outros clubes holandeses e belgas competiriam por uma vaga em competições europeias.
Nieuwenhuis é entusiasta de tal configuração.
“Você tem um desfecho extra no meio da competição, o valor de mercado dessa competição aumenta e você permite que os clubes mais baixos participem da competição com chances de sonhar na classificação para a segunda fase” comentou.